[justify:1w4eilwi]
O carro que vemos na quadro de cima, nas próprias palavras de
Miguel Lacerda (o jovem “lobo” que vai ao volante):
"foi único no Mundo". E a sua irrepetibilidade fundou-se no facto de ter sido radicalmente modificado pelo
Mestre Eduardo Santos, da mítica
Garagem Aurora do Porto. Como transparece da espectacular imagem do poster central do jornal “
Motor” de 1 de Março de 1973, o
Porsche 906 Carrera 6 difere profundamente do seu aspecto de fábrica, fruto daquela que foi a primeira grande transformação efectuada num Porsche pelo
Mestre Eduardo Santos: o Protótipo
“Aurora Porsche 906”. (nota: que presentemente se encontra “devolvido” às suas configurações originais).
“Handpicked” em Zuffenhausen.
O 906,
chassis #906-130 foi comprado directamente na fábrica por
Fernando da Bavária, típico cliente da Porsche à altura, já que provinha de uma família ligada às grandes casas reais Europeias. E como nós sabemos, desde que regressou à Alemanha vinda de Gmund que a Porsche fazia questão ou gosto de entregar pessoalmente em Zuffenhausen, os “
carros especiais” aos “
clientes especiais”. Volvido um ano, o carro é vendido a
Alex Soler Roig, piloto que se tornou Campeão Nacional de Espanha conduzindo o 906. Finda a temporada desportiva e já em 1968, o carro passa para as mãos de
José de La Peña e mais tarde para o importador da Porsche naquele país,
Ben Heiderich, que por sua vez vende o automóvel a
Carlos Santos, de Portugal.
Carlos Santos que dispensa quaisquer apresentações já que é uma das nossas grandes referências da Porsche em Portugal. E é com este 906 que ele irá conquistar inúmeros êxitos (em Portugal, Angola e Moçambique), nomeadamente durante as temporadas de 69, 70 e 71 do Campeonato Nacional de Velocidade. Vem o 25 de Abril e o carro “foge” para o resto do mundo. É vendido para Vancouver, Canadá a
Peter Price e posteriormente a
Ron Armour,
Sam Yagi e
Bill Stephens, passando do Japão aos Estados Unidos da América, local onde actualmente se encontra. Ao todo o 906 entrou em 24 corridas, doze das quais disputadas por
Carlos Santos e cinco por
Miguel Lacerda, os seus mais “assíduos” utilizadores e os que mais contribuíram para o palmarés do Carrera 6/Aurora-Porsche. Os restantes condutores em provas desportivas foram
Fernando De Baviera,
Alex Soler-Roig,
Artur Passanha e
Manuel Nogueira Pinto.
Em termos estatísticos, foram estes os dados mais significativos do chassis #30:
Foto: pormenor da apresentação do 906 no prospecto da família completa de modelos Porsche:
Foto: ficha de inscrição de um 906 em prova:
O Porsche alucinogénio.
Os
hippies procuravam nas drogas alucinogéneas o veículo para atingirem estados mentais feéricos de extase e intenso prazer. Eram viajentes imaginários entre o mundo real e o subconsciente. Quem as experimentou sabe bem o que signifca o fenómeno do psicadelismo, que é como quem diz, a percepção de aspectos da mente anteriormente desconhecidos e recriados numa exuberância criativa sem limites. Em 1971
Tony Lapine da “
Style Porsche” vai incorrer numa trip deste género (sem recurso a drogas presumo eu) e vai pintar o 917-043 como um “quadro psicadélico” e inventar aquele que ficou conhecido como o “
The Hippie car”. Segundo
Tony Lapine, um carro de corrida só deveria estar concluído mesmo antes de se iniciarem os primeiros treinos de uma corrida. O que era uma afirmação algo controversa, uma vez que o último degrau da criação era precisamente a pintura. Inicialmente, a primeira vez que o carro foi a pesagem, apareceu (sara)pintado com umas núvens brancas em fundo azul. Posteriormente, já com vista à competição, o chassis #43 foi re-pintado na fábrica da Bauer em Stuttgart e lapine só experimentou duas cores: o branco e o roxo. E foi assim que ele deu entrada em Zuffenhausen, debaixo de uma vaia. Toda a gente o detestou, e lapine e a sua equipa, durante toda a noite, introduziram uma nova cor no carro: o verde.
O 917 Hippie, vai ser um dos míticos automóveis da mais espectacular corrida de sempre: Le Mans 1970. Tratava-se de um Porsche 917 LH da Martini Racing e foi conduzido por
Gérard Larousse e
Willy Kauhsen. Segundo consta,
Hans Dieter Dechent responsável pela equipa de competição da altura adorou o psicadelismo do Projecto, coisa que não se poderá dizer do
Big boss Ferry Porsche. O certo é que a moda pegou, o carro fez furor na generalidade dos amantes da marca e chegou a Portugal importada pelo
Carlos Santos. E assim, em 1971, ele vai transformar o 906-130 num
906 , leia-se “
Primeiro Porsche Psicadélico Português”
, já que outros também virão, como o 907/8 do saudoso portuense
Rui Guedes.
Foto: o Psicadélico nacional:
1972 – A transformação na Garagem Aurora.
O
Porsche 906 Carrera 6, apareceu como uma evolução do Porsche 904, beneficiando de um motor Typ 901/20 de 6 cilindros horizontais, arrefecido a ar, com 1991 cc, debitando 220 cv às 8000 rpm, binário de 208 Nm às 6400 RPM e uma taxa de compressão de 10.3:1. Uma das especificidade do 906 era ter um chassis tubular. Claro que a performance do 906, para além de estarem facilitadas pelas características atrás indicadas, provinha de dois factores extremamente preponderantes: o pouco peso do automóvel originado no facto de o mesmo ter a sua carroceria construída em fibra de vidro leve e na sua impressionante “
stance”, muito baixa fruto da relação da distância do tejadilho ao solo e proporcionada por um design inovador extremamente aerodinâmico.
Foto: 1966, Zuffenhausen. O Carrera 6 é colocado ao lado do 911 para mostrar a diferença. E o 911 já é considerado um automóvel baixo...
Independentemente destas interessantes especificações, o certo é que, chegados a 1972 o 906 Carrera 6 revelava já ficar aquém da concorrência mais recente, como era o caso dos Lola T’s (289 e 290), do Chevron B-21 e dos GRD, os denominados Sport Protótipos que correram nos Grupos 3, 4 e 5. Para tornar o Carrera 6 mais competitivo, o
Mestre Eduardo Santos procurou uma solução aerodinâmica que fosse capaz de aligeirar o 906 por forma a que este pudesse responder com mais eficácia aos carros da concorrência conceptualmente mais evoluídos que o Porsche. Do 906 de fábrica, como a fotografia inicial demonstra, o Aurora apenas vai preservar a estrutura central, deixando intacta a estrutura tubular original do chassis. Todo o resto, mais concretamente a parte frontal e traseira do 906 foi substituída por painéis “
lightweigh” idealizados pela criatividade, engenho e arte do preparador portuense. Tal modificação, obrigaria por sua vez à alteração substancial de todo o sistema de luzes do veículo, como se verifica pela observação das ópticas frontais e pelo conjunto dos stops que são deveras sui generis com um notório “
look” de improvisação. As rodas originais traseiras foram retiradas e no seu lugar foram colocadas umas jantes
Revolution. No final, o carro pesaria cerca de 600 kg.
Carlos Santos dará pouca utilização ao
Aurora-Porsche, por um lado por não se ter adaptado totalmente á transformação, mas principalmente porque vai adquirir o Porsche 907. E quem beneficiará mais com a sua utilização será exactamente o
Miguel Lacerda aka milac.[/justify:1w4eilwi]